Reuna Logo
Voltar ao site

Taxa de jovens “nem nem” cai no Brasil, mas situação segue preocupante

O relatório Education at a Glance 2024, publicado recentemente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), provoca boas reflexões sobre a situação de nossos jovens que estão na escola e fora dela. A taxa dos chamados “nem nem” – que não trabalham nem estudam – caiu de 29,4% para 24% entre 2016 e 2023 no Brasil. No entanto, o país segue acima da média OCDE, que estava em 15% e caiu para 13,8%, no mesmo período. 

O decréscimo de 5 pontos percentuais no cenário brasileiro é positivo considerando que nossa população de jovens ainda é grande. Fica claro também que uma série de ações que o Brasil fez em relação ao Ensino Médio entre 2016 e 2023 teve efeito, como as ações de busca ativa escolar após a pandemia e as inovações curriculares que os estados e o Distrito Federal começaram a implementar para incentivar a permanência dos jovens na escola. Apesar disso, não podemos ignorar que a queda na taxa acontece de forma lenta diante da perda do bônus demográfico que o Brasil vai sofrer em pouco tempo: o país deixará de ter uma maioria de população jovem e passará  a ter mais adultos e precisamos prepará-los adequadamente para fazer o país avançar. 

Nações que fizeram a lição de casa no período de transição ou mudança do bônus demográfico conseguiram que sua população adulta chegasse produtiva e qualificada ao mercado de trabalho – e o processo necessariamente passou pela melhora da escolarização. Então, mais do que nunca, temos de acelerar para garantir acesso e permanência na escola, bem como ao ensino de qualidade. Nossos jovens precisam concluir o Ensino Médio com a qualificação adequada, seja combinando a formação básica com a formação para o trabalho ou não. 

O Pé-de-Meia, programa do governo federal de incentivo financeiro-educacional para estudantes beneficiários do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) matriculados no Ensino Médio e na Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede pública, é uma iniciativa importante para dar condições para os mais vulneráveis seguirem na escola. Outro compromisso fundamental é a implementação das medidas previstas na lei da Política Nacional de Ensino Médio, com destaque para o ensino profissionalizante. 

Não é mais aceitável que tenhamos no Brasil jovens que estejam fora da escola e sem trabalhar ou em subempregos, exercendo atividades informais. Também não podemos mais naturalizar um sistema educacional que reprova muitos e não ensina. Nossa juventude, classificada como “nem nem” é, na verdade, “sem sem”. Sem oportunidades de trabalho, sem oferta de educação de qualidade. 

O problema já é observável desde os anos finais do Ensino Fundamental: muitos são os que deixam a sala de aula antes de concluir o 9o. ano. Dados do Censo Escolar 2023 (Mec/Inep) mostram que a taxa de conclusão no 5o. ano é de aproximadamente 92%. No 9o. ano, cai quase 10 pontos percentuais. Uma das mais recentes estratégias do Ministério da Educação (MEC) para combater essa diminuição é o Programa Escola das Adolescências. A proposta é construir uma escola conectada com as diversas formas de viver a adolescência no Brasil, promovendo um espaço acolhedor e impulsionando a qualidade social da educação, e fazer a recomposição das aprendizagens para justamente diminuir a evasão e o abandono escolar. Com isso, os alunos vão se sentir mais pertencentes ao ambiente escolar, passando a enxergar mais propósito na educação e mais dispostos a concluírem a Educação Básica. 

Quando não se tem perspectiva de futuro, abandonar os estudos se torna uma saída para seguir a vida. Afinal, por que alguém continuaria frequentando uma escola que não atende aos seus anseios, é desconexa da sua realidade e falha em garantir as aprendizagens? 

Katia Smole é diretora-executiva do Instituto Reúna

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *