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Conheça melhor o Referencial para Seriação no Ensino Médio

Em agosto deste ano, o Instituto Reúna lançou o Referencial para Seriação das Matrizes Curriculares no Ensino Médio: Língua Portuguesa e Matemática. Este material é uma proposta para a progressão das habilidades dos componentes nas três séries do Ensino Médio. Isso porque, com a aprovação do Novo Ensino Médio pela lei 13.415/2017, BNCC e das DCNEM, em 2018, foram previstas algumas importantes mudanças e foi necessário reelaborar os currículos do Ensino Médio de forma que estejam alinhados a essas novas diretrizes. 

Para apoiar a implementação do Novo Ensino Médio,  e um dos aspectos da Lei 13.415/2017 e das DCNEM de 2018, que é a abordagem obrigatória dos componentes de Matemática e Língua Portuguesa nos três anos do Ensino Médio, o Instituto Reúna fez, em 2020, a pedidos dos então coordenadores das Frentes de Currículo e Ensino Médio e Avaliação do Consed uma sugestão de distribuição das habilidades destes componentes ao longo das três séries, considerando a progressão da aprendizagem e outros fundamentos pedagógicos previstos em suas respectivas áreas, na BNCC. Este material é o Referencial para Seriação das Matrizes Curriculares no Ensino Médio , que você pode conhecer clicando aqui. 

Nós conversamos com duas das especialistas envolvidas no processo de criação deste material e pedimos algumas dicas sobre seu uso. Maria Ignez Diniz é doutora pelo Instituto de Matemática e Estatística da USP e também realiza consultorias que envolvem análise e elaboração de propostas curriculares, desenvolvimento de material didático, implantação de projetos pedagógicos e formação de professores e equipes gestoras. A outra especialista que produziu o material é Jacqueline Barbosa, doutora em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas pela PUC-SP e professora do departamento de Linguística Aplicada da Unicamp. Ela atua como consultora de diversas secretarias de educação e organizações de educação do terceiro setor. 

Compartilhamos o resultado deste bate-papo aqui:

Maria Ignez Diniz, especialista em Matemática

1) Se Matemática é obrigatório nas três séries do Ensino Médio, como organizar as matrizes escolares de modo a garantir progressão de aprendizagens e aprofundar os conhecimentos dos anos finais? 

Maria Ignez Diniz – As habilidades para as competências estabelecidas pela BNCC não são todas do mesmo tipo. Algumas são mais complexas que outras, e, portanto, não se desenvolvem rapidamente. Isso significa que não podem ser limitadas a um ano escolar.

Existem também habilidades que são complementares, ou seja, devem estar próximas daquelas que complementam. Isso implica um arranjo a cada ano escolar que seja ao mesmo tempo progressivo para as habilidades mais complexas e também é necessário um trabalho coerente com as habilidades que são complementares.

2) Considerando o contexto da pandemia, quais dicas podem ser dadas para a priorização das aprendizagens na organização de matrizes referenciais e/ou no contexto escolar?

Maria Ignez Diniz – Com a redução do tempo de ensino e as mudanças na forma dos estudantes terem acesso ao conhecimento — com alternância entre momentos presenciais e à distância (que foram/são comprometidos pelas inúmeras dificuldades de acesso) — é essencial um estudo das habilidades focais entre aquelas propostas pela BNCC. Muitas vezes é ainda preciso recuar para séries anteriores, buscando o ponto em que os estudantes estão para fazê-los avançar.  Muitas das habilidades essenciais/focais, pela sua complexidade, solicitam mais de uma capacidade, como “resolver e elaborar problemas” para determinado conceito, objeto ou procedimento. Nesse caso, para fins de priorização, uma habilidade essencial que envolva dois níveis de desenvolvimento, como resolver e elaborar, pode-se dar mais ênfase na parte da habilidade que envolva resolução. Desta forma, num contexto de redução do tempo escolar, o estudante terá aprendido uma habilidade essencial para desenvolvimento de outras habilidades do mesmo ano ou do ano seguinte.

3) Tem outra dica?

Maria Ignez Diniz – Uma boa proposta pode ser trabalhar com atividades mais integradoras para, em um tempo mais curto, alcançar diversas habilidades. Dessa forma, diferentes habilidades podem ser solicitadas e desenvolvidas de maneira mais efetiva. Por exemplo, a investigação sobre uma fatura de cartão de crédito, é um bom recurso para: 

  • interpretar e comparar situações que envolvam juros simples com as que envolvem juros compostos (EM13MAT303)
  • resolver e elaborar problemas com funções exponenciais nos quais seja necessário compreender e interpretar a variação das grandezas envolvidas, em contextos como o da Matemática Financeira (EM13MAT304)
  • identificar e associar progressões geométricas (PG) a funções exponenciais de domínios discretos (EM13MAT508).

Ainda no contexto de exceção causado pela pandemia, as avaliações diagnósticas são bem importantes no sentido de identificar o ponto em que o estudante se encontra. Mas, além delas, é preciso trabalhar o acolhimento aos jovens que perderam o elo com a escola e com o conhecimento, propondo atividades mais mobilizadoras ou instigantes de modo a conquistar a vontade de aprender, ao invés de apenas tentar resolver as não aprendizagens identificadas.

 

Jacqueline Barbosa, especialista em Língua Portuguesa

4) Repetimos a pergunta que fizemos para a Maria Ignez, mas agora com foco em Língua Portuguesa: se este componente é obrigatório nas três séries do Ensino Médio, como organizar as matrizes escolares de modo a garantir progressão de aprendizagens e aprofundar os conhecimentos dos anos finais? 

Jacqueline Barbosa – Os campos de atuação contextualizam as práticas de linguagem – leitura, produção de textos, oralidade e análise linguística – e as aprendizagens, expressas em habilidades. Assim, a organização das situações de aprendizagens para Língua Portuguesa não deve ser pensada a partir de uma habilidade isolada ou mesmo competência (e, assim, ir progredindo de uma a uma). Ela deve partir de uma prática, de uma atividade (ou de uma problemática) própria do campo, que sempre vai envolver um ou mais gêneros do discurso e diferentes habilidades.

E, importante: os campos não devem ser tomados de forma isolada, há muitas intersecções e articulações possíveis que devem ser pensadas, o que também otimiza tempo e potencializa aprendizagens.

 

5) Quais dicas podem ser dadas para a priorização das aprendizagens na organização de matrizes referenciais e/ou no contexto escolar considerando o contexto da pandemia?

A pandemia trouxe uma necessidade de priorizar as aprendizagens. Por isso, uma das possibilidades é partir de práticas, atividades ou problemáticas dos campos jornalístico-midiático e artístico literário que possam contemplar não apenas habilidades desses campos, mas também de outros campos.

Um exemplo: Com o objetivo de trabalhar com o combate à desinformação (contemplada em diferentes habilidades), uma das pautas centrais do campo jornalístico-midiático nos dias de hoje (e também do campo científico), é a leitura e análise de notícias da imprensa, de fake news e também de postagens diversas nas redes sociais. Assim, pode-se propor o estudo do fenômeno por meio da leitura de textos, escuta de podcasts ou visualização de vídeos, por exemplo, de divulgação científica e jornalísticos sobre a temática. Isso pode envolver habilidades relacionadas à busca, seleção e tratamento de dados e informação, habilidades e procedimentos de apoio à compreensão, dentre outras. A socialização desse estudo pode envolver alguma forma de atuação social, além de habilidades do campos das práticas de e estudo e pesquisa.

Acesse o Referencial, gratuitamente, aqui.

 

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