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A recomposição das aprendizagens no contexto da implementação do Novo Ensino Médio

O Ensino Médio

Desde antes do início da pandemia muitos estudantes do Ensino Médio já lidavam com situações desafiadoras ao longo das séries escolares na tentativa de concluir os estudos, entre elas se destacam a evasão e a defasagem nas aprendizagens.

Historicamente, o Ensino Médio é uma das etapas do sistema educacional que apresenta um dos maiores índices de evasão. De fato, pesquisas anteriores ao período de pandemia indicavam que cerca de 680 mil estudantes brasileiros não finalizam o Ensino Médio (Pnad Contínua 2019). A situação da pandemia agravou ainda mais esse problema e estima-se que esse índice pode se ampliar muito. Uma pesquisa recente do UNICEF revela que um em cada dez estudantes brasileiros de 10 a 15 anos não pretende voltar à escola mesmo após o retorno das aulas presenciais, agravando portanto ainda mais o problema da evasão dos jovens no Ensino Médio. 

Com o início da pandemia em 2020, o cenário se complexificou ainda mais: o aumento da defasagem pode ser, em parte, explicado pelo fato de que, desde 2020, muitos estudantes do Ensino Médio tiveram aulas suspensas ou de maneira remota. No contexto remoto ou semipresencial, os estudantes e professores perdem a vantagem de criar conexões e proximidades entre si potencializadas no espaço físico,  facilitando o apoio no  percurso de aprendizagem. Assim, o uso da tecnologia se tornou essencial para garantir a continuidade dos estudos, fator que inevitavelmente excluiu uma parcela dos jovens que não tinham garantidas as condições estruturais necessárias ou que precisavam apoiar os familiares, seja com as tarefas domésticas ou na complementação da renda familiar.

 

Cenário do Ensino Médio em 2022

Soma-se a tudo isso um novo desafio: em 2022, todas as redes do país têm o compromisso de implementar as inovações do Ensino Médio em cumprimento da lei 13.415/2017

É preciso levar em consideração que neste ano alunos que se encontram na 1ª série do Ensino Médio vivenciaram dois anos de pandemia. Ou seja, em 2020 estavam iniciando o 8º ano do Ensino Fundamental, finalizaram aquela etapa em 2021 e, muito provavelmente, não conseguiram aprender tudo o que era esperado para essa fase. 

Duas coisas se tornam essenciais: a busca ativa para que estudantes estejam na escola e a recomposição das aprendizagens para possibilitar a aprendizagem dos conhecimentos essenciais aos quais não tiveram acesso, em especial pelos fatores associados à pandemia.  

Observemos que neste momento atípico enfrentado pelo cenário educacional não estamos falando em recuperação das aprendizagens, processo em que alguns estudantes têm a oportunidade de reaprender, de retomar o que foi ensinado o durante a sua trajetória escolar regular, presencial, e que não foram plenamente desenvolvidos segundo o que era esperado. Estamos falando de recompor, no sentido de garantir aprendizagens essenciais para todos os estudantes, sem as quais a continuidade dos seus estudos atuais e futuros pode ficar bastante comprometida. 

 

Como recompor as aprendizagens no Ensino Médio?

É importante ter em vista que recompor as aprendizagens é um compromisso a ser assumido coletivamente pelas redes, escolas e professores. Envolve planejamento conjunto e uma série de ações interconectadas. Em primeiro lugar, é preciso analisar as prioridades curriculares, isto é, entre todas as aprendizagens essenciais, quais são aquelas mais essenciais neste momento de crise. Quanto mais foco a rede, as escolas e os educadores tiverem para as aprendizagens, mais rapidamente será possível a aproximação progressiva das aprendizagens esperadas. E isso deve ser feito com olhos no passado, no presente e no futuro.

Explicamos: tomando o exemplo de um estudante que em 2020 estava no 8º ano do ensino fundamental e que agora está na 1ª série do Ensino Médio. Ele provavelmente não deve ter aprendido coisas muito essenciais de matemática, por exemplo, nos dois anos que ficou sem aulas presenciais, que como sabemos, são essenciais para as aprendizagens. Este fato, pode comprometer as aprendizagens que devem acontecer na 1ª série do EM. Isso exige que as redes, junto às suas escolas, revisem os currículos pensando da seguinte maneira: “o que é estruturante que os estudantes aprendam em 2022 para que em 2023 possam estar mais próximos das aprendizagens esperadas para a 2ª série do EM?” Mas, também será necessário analisar as habilidades focais do 8º ano e do 9º ano que precisam ser aprendidas para garantir as aprendizagens focais na série em que os estudantes se encontram em 2022. 

A este trabalho de exercício de priorização curricular – que mapeia as aprendizagens essenciais para o desenvolvimento dos estudantes e que são capazes de colaborar para que os alunos conquistem conhecimentos e competências importantes para o avanço ou conclusão dos estudos -, se associam processos de avaliação diagnóstica para termos clareza do quão próximos ou distantes os estudantes estão das aprendizagens que foram consideradas essenciais. Esse diagnóstico não precisa ser feito logo nas semanas iniciais, mas deve ser feito ainda no primeiro mês de aulas para que os planejamentos das escolas levem em consideração o estágio em que os estudantes estão, para poder atender os focos mais urgentes de ação.

Na escola, é relevante que o trabalho orientado para a recomposição das aprendizagens seja coletivo e reconhecido por gestores escolares, professores, estudantes e comunidade escolar. É preciso que todos saibam do esforço para que os alunos estejam na escola e aprendam nela.

Assim, o passo após a priorização curricular é planejar tempo para formar os professores, com um plano de trabalho definido de modo que possa ser acompanhado e avaliado. Os professores precisam realizar intervenções para garantir que os planos de aprendizagem traçados para os alunos se efetivem, acompanhá-los sem perder de vista as necessidades individuais de cada um e socializar os resultados alcançados, tendo e oferecendo apoio constante para que os estudantes sigam aprendendo. Para isso, a avaliação processual e formativa é muito relevante.

A gestão, principalmente na figura do diretor, tem um papel crucial na organização dos espaços e na garantia dos tempos para que esse trabalho aconteça, é por meio de um trabalho planejado, direcionado e com liderança definida que as ações podem ser mais efetivas. 

Já o coordenador pedagógico ou o professor coordenador é o ator responsável pela formação e acompanhamento pedagógico dos professores, garantindo que esse trabalho seja realizado com qualidade. 

Um ponto que ainda merece destaque é que muitas ações podem ser planejadas pela equipe da escola: ampliação dos tempos de aula com uso ou não de tecnologia, momentos de imersão específicos para atender estudantes com necessidades comuns, aulas de reforço com estagiários ou professores especialmente contratados para ajudar a resolver questões (tais como dificuldades com leitura e escrita etc). No entanto, a liderança desse processo de recomposição de aprendizagem na sala de aula é de quem atua com os estudantes, isto é, as professoras e professores.

Por isso, é importante garantir que, a partir da formação, sejam feitas boas escolhas didáticas, com uso de materiais adequados, que garantam aulas organizadas, com materiais didáticos selecionados em função daquilo que se deseja que seja aprendido, com uso de metodologias ativas e voltadas ao desenvolvimento integral dos estudantes.

Os familiares ou responsáveis pelos estudantes, quando envolvidos e comunicados das estratégias adotadas pela escola, apoiam e mobilizam os alunos para estar em sala de aula e cumprirem suas tarefas e compromissos. Por se tratar de Ensino Médio, um fator de relevância para a recomposição das aprendizagens e a permanência na escola pode ser o projeto de vida, que é uma maneira de apoiar o estudante a pensar sua trajetória presente e futura, a vislumbrar formas de avançar por meio da educação e até, de entender como ele também pode se envolver com a recomposição de suas aprendizagens.

Tudo isso ganha ainda mais potência quando se tem um olhar permanente de rede, capaz de não apenas apoiar as priorizações, e os planos de ação que já mencionamos antes, mas essencialmente de acompanhar as execuções, apoiar as equipes gestoras das escolas, e disseminar as práticas de recomposição de maneira ampla e coordenada. Esse papel pode ser assumido pelas Secretarias de Educação em conjunto com suas regionais, quando houver.

Além desses atores, é importante contar com a avaliação para apoiar o trabalho orientado para a recomposição das aprendizagens. As avaliações servem como bússola para o trabalho do professor, mostram o ponto de partida em que os estudantes se encontram e a forma como eles estão compreendendo as atividades educativas, dando insumos para que sejam encontradas estratégias de correção de rota que melhor se adequem as necessidades dos estudantes.

Vale reforçar que a recomposição é um trabalho que envolve todos os atores escolares, que se faz urgente e necessária no cenário atual para que os estudantes tenham garantido o seu pleno direito ao acesso à educação e por consequência, a oportunidade de se desenvolverem integralmente.

 

O Fortalecimento da Aprendizagem no Ensino Médio

E é por entender essa urgência e relevância que, ao lado do Instituto Unibanco, o Reúna lança neste mês o projeto Fortalecimento da Aprendizagem. Ele tem como objetivo ajudar escolas, redes, professores e estudantes a fazerem esse importante trabalho de recomposição das aprendizagens. O material indica a jornada de cada um desses atores dentro de um trabalho orientado para a recomposição das aprendizagens, qual é o papel de cada um, o que eles vivenciam e os recursos que podem fazer uso. O material é voltado para o terceiro ano do Ensino Médio e foca em Língua Portuguesa e Matemática. 

O material se baseia em um ciclo de melhoria e aprendizagem que se organiza a partir da priorização das habilidades da BNCC da etapa do Ensino Médio (contempladas em todos os currículos do país), indica como ponto de partida a realização de uma avaliação inicial, orienta que as atividades educativas sejam intercaladas com as avaliações formativas, e finaliza com a avaliação final. O acesso ao material é gratuito e só é necessário um cadastro simples no site para conhecê-lo. Clique aqui e aproveite!

 

Notas de rodapé:

  1. A série Mapas de Foco do Instituto Reúna (Mapas de Foco, Mapas de Foco nas Redes e Mapas de Foco na Escola), podem apoiar esse processo de estudo, ainda que esteja organizada para 1º a 9º ano. Os critérios e processos sugeridos valem para o Ensino Médio.
  2. A Plataforma de Apoio a Aprendizagem disponibiliza cadernos de atividades de verificação da aprendizagem para as três séries do Ensino Médio, nos componentes de Língua Portuguesa e Matemática, junto com um material de apoio com a resolução de cada atividade. Além disso, a plataforma ainda reúne materiais para interpretar os resultados das atividades e construir o diagnóstico das turmas e Orientações Pedagógicas para os dois componentes de cada série do EM.
  3. Você pode aprender sobre avaliação processual e formativa fazendo a eletiva O Lugar da Avaliação da plataforma Nosso Ensino Médio.

 

Por Katia Smole e Priscila Oliveira.

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2 Comentários

  • Sheila Cristina Duque da Silva 12 meses atrás

    Excelente!

  • Fábio Pires De Souza 8 meses atrás

    Material Incrível do Reúna. Fantástico!!!