Em evento do Estadão, Katia Smole, do Instituto Reúna, chama atenção para a importância da alfabetização Matemática
Katia Smole, diretora-executiva do Instituto Reúna, foi uma das convidadas para participar da mesa Alfabetização, no evento Reconstrução da Educação, promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo, dia 18 de novembro, no Museu do Ipiranga, na capital paulista.
Durante a conversa sobre alfabetização com Renata Cafardo, jornalista do Estadão, e mais dois convidados (Anna Helena Altenfelder, presidente do Conselho de Administração do Cenpec, e Hylo Leal, coordenador do Núcleo de Avaliação da Associação Bem Comum), a conclusão foi unânime sobre superar as discordâncias sobre métodos e buscar o aprimoramento da forma de ensinar, inclusive com apoio do que a neurociência tem fornecido sobre o funcionamento do cérebro e como aprendemos. “Se tivéssemos a receita sobre como alfabetizar, o assunto ainda não estaria sendo discutido no mundo todo, como acontece até hoje”, completou. Uma das contribuições da neurociência sobre aprendizagem foi apresentada por Bruce McCandliss, professor da universidade norte-americana de Stanford, na mesa anterior. A pesquisa sobre a qual ele falou mostra que as crianças passam por estímulos cerebrais distintos durante a aquisição da fala e desenvolvimento da leitura e podem ler quantidades diferentes de palavras por minuto a depender de quais regiões do cérebro são acionadas.
Mergulhando fundo no assunto da mesa, Katia também propôs uma reflexão sobre a alfabetização matemática, que ainda hoje é deixada de lado pelas avaliações, que priorizam mais a leitura e a escrita em Língua Portuguesa. É preciso, enfatizou ela, considerar a escrita e a alfabetização matemática, igualmente importantes. De acordo com ela, o tema não tem recebido a atenção devida por parte das políticas públicas; ao contrário da alfabetização na língua materna, que se tornou política de estado e, de 1980 para cá, fez o país avançar.
Ao contrário da língua portuguesa, a matemática se aprende, em grande parte, na escola, dadas suas habilidades e elementos próprios. “Não adianta culpar a pandemia. Não voltamos ao patamar adequado nas avaliações porque já não estávamos nele”, falou.
Como resultado do baixo investimento no ensino da matemática, nossos estudantes têm desenvolvido cada vez mais a ansiedade matemática, fenômeno estudado no mundo todo e comprovado estar atrelado diretamente à escola. Basicamente, uma criança manifesta ansiedade matemática quando se mostra ansiosa em relação às suas notas e/ou fica nervosa, tensa ou se sente desamparada resolvendo problemas matemáticos.
“No 4º e no 5º ano, a ansiedade matemática aumenta. Naturalizamos o fracasso escolar, como se fosse normal uns aprenderem matemática e outros, não. Cada vez que priorizamos alguns componentes e deixamos matemática de fora da lista, criamos abismos imensos. Recompor a aprendizagem de matemática é mais difícil que a de língua materna”, disse ela.
A segunda edição do evento Reconstrução da Educação incluiu discussões online e o evento presencial no dia 18 de novembro com mesas sobre educação infantil, alfabetização, escola em tempo integral, educação profissional e tecnológica e formação de professores. Além de Katia Smole, Anna Helena Altenfelder, Hylo Leal e Bruce McCandliss, também participaram: Camilo Santana, ministro da Educação; Haroldo Corrêa Rocha, líder do Movimento Profissão Docente; Jahzara Oná, jovem ativista climática e uma das representantes do movimento “Fridays For Future” no Brasil; Pilar Lacerda, presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação; Priscila Cruz, presidente executiva do Todos pela Educação; entre outros convidados.