Recomendações para o EaD

A formação de professores no modelo de educação a distância (EaD) tem sido uma realidade para diversas redes públicas no Brasil. As vantagens desse modelo são, principalmente, a abrangência e a versatilidade, porém, por conta do baixo número de concluintes, são grandes os desafios para manter os cursistas engajados e acompanhar suas produções ao longo do processo formativo.

Antes de iniciar a busca por sugestões para a adaptação das pautas do Percurso Formativo e do Percurso Formativo - Na Prática para o EaD, sugerimos analisar qual será a parcela desenvolvida on-line, tendo em mente que, inicialmente, é necessário manter o foco na aprendizagem docente. Isso significa dizer que, ainda que sejam feitas adaptações, os objetivos formativos das pautas devem ser mantidos, uma vez que eles direcionam, por exemplo, as propostas do fórum, os textos que vão ser lidos, as propostas para os momentos síncronos.

Com essa análise feita, vislumbramos três principais cenários:

A formação acontecerá integralmente em formato on-line: neste caso, é necessário um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), com plataformas à disposição, tais como Moodle, Canva, Google Classroom, entre outras. Nesse modelo, os cursos poderão acontecer com tutoria ou de forma autoinstrucional. As pautas precisarão ser completamente adaptadas.
A formação ocorrerá parcialmente on-line: quando mesclada com momentos presenciais, pode-se ter atividades em um AVA e pode-se usar apenas recursos que ajudem a acompanhar o que será desenvolvido à distância. As pautas serão parcialmente adaptadas, ou seja, alguns momentos poderão ser mantidos como o planejado, que acontecerá presencialmente, e alguns serão adaptados para o EaD.
Algumas atividades serão remotas: grande parte da formação acontecerá presencialmente e apenas algumas atividades serão a distância, principalmente aquelas que se conectam aos temas já abordados nos momentos presenciais. Nesse caso, recursos digitais, como ferramentas de produtividade (Google Drive e Google Documentos, por exemplo), poderão ser suficientes e a adaptação do conteúdo será muito mais simples. Poucas atividades das pautas serão adaptadas e, nesse caso, não temos um formato EaD, apenas um presencial enriquecido com interações em recursos digitais.

Dos cenários exemplificados acima, o último é o que menos requer ajustes porque está baseado em um formato em que a pauta pode ser seguida com pequenas adaptações, como a criação de um planejamento on-line para compartilhar com os demais colegas do grupo. Para isso, recomendamos a busca dos melhores recursos digitais que permitam a realização dessas atividades on-line e o uso de momentos da formação presencial para resgatar o que foi construído remotamente entre cada um dos encontros. Vamos focar as indicações principalmente para os casos a e b, que utilizarão um AVA e que adaptarão os conteúdos apresentados nas pautas desenhadas para a formação presencial.

Compreender as possibilidades utilizando um AVA será a chave para a adaptação das pautas. Para isso, durante o curso, é importante que o planejamento preveja momentos assíncronos, quando o participante pode explorar textos, vídeos, artigos e fóruns no momento em que acessar o AVA, e síncronos, em que o participante pode participar de videoconferências e webinars para tirar dúvidas sobre o conteúdo do curso e também compartilhar aplicações e desdobramentos.

Para as atividades assíncronas, ou seja, aquelas que são postadas no AVA e o participante pode realizá-las no tempo que tiver disponível, listamos algumas sugestões abaixo:

Como aparece no percurso	Sugestões de adaptação para o EaD
Vídeos e textos utilizados nas dinâmicas das pautas formativas	Podem ser explorados pelos participantes quando postados em um AVA. Nesse caso, para dar conta das premissas de qualidade do percurso, principalmente a que trata dos métodos ativos de aprendizagem, é importante que esses recursos estejam conectados a alguma produção do educador participante. Por exemplo, o participante realiza a leitura de um artigo e interage com os colegas do grupo por meio de questões sobre o texto postadas em um fórum ou, ainda, o participante assiste a um vídeo e, em seguida, constrói um planejamento de aula baseado nas ideias apresentadas.
Explorar explicações e momentos expositivos da pauta	Pode-se elaborar pequenas videoaulas: dê preferência para a produção de vídeos curtos e objetivos. Os slides das pautas podem servir de inspiração. Evite usar o PPT como único recurso da formação EaD. Pensando nas premissas de qualidade do percurso, essa estratégia não garante a exploração de métodos ativos e pode tornar a formação on-line pouco atrativa.
Momentos de debate e discussão	Podem ser adaptados para fóruns. O uso do fórum precisa ser direcionado com boas questões que nortearão a discussão. Perguntas do tipo “O que você achou do texto?” podem ser muito vagas e não promover a discussão adequada. Busque utilizar perguntas reflexivas e que se conectem com a prática do professor, por exemplo: “Do texto que você acabou de ler, quais elementos já fazem parte da sua prática, quais você gostaria de inserir no dia a dia? Explique suas escolhas.”
Casos de estudo, como planos de aula e situações didáticas	Um recurso que pode enriquecer as propostas do EaD é a exploração de casos de aplicação. Por exemplo, professores poderão analisar planos de atividades para levantar elementos de alinhamento com a BNCC. O fórum de discussão pode servir de ambiente para troca dessas análises. Este é um tipo de atividade que visa promover a reflexão e permite que o professor conheça exemplos, tanto de boas práticas quanto daquilo que deve ser evitado.
Dinâmicas como World Café, rotação por estações, JigSaw (dinâmica do quebra-cabeças)	É possível adaptar essas atividades para dinâmicas que acontecerão dentro de fóruns de discussão. Outra forma de estimular o trabalho em pequenos grupos é indicar uma atividade e pedir para que os participantes se reúnam, por videoconferência, em equipes menores. Com isso, eles terão oportunidade de debater um determinado texto ou estudo de caso e, em seguida, podem até postar as conclusões da atividade em um fórum de discussão, por exemplo.

Deve-se cuidar para que o conteúdo trabalhado no AVA não seja apenas um grande compilado de vídeos, artigos e testes que não garantam ao participante a produção de algo baseado nos aprendizados conquistados ao longo da formação EaD. Cada etapa deve propor reflexões, planejamentos e interações, inclusive aquelas nas quais os pares poderão avaliar planos de aula ou sugestões de atividades construídas por seus colegas. Para isso, as próprias atividades da pauta formativa podem ser adaptadas, por exemplo: em uma das pautas, após ler um artigo em grupos, é realizado um debate sobre o conteúdo do texto e em seguida constrói-se um registro gráfico que representa as principais ideias levantadas pelo grupo; para o EaD, pode-se sugerir a leitura do artigo, a participação no fórum e a entrega de um registro gráfico com os principais conceitos explorados nas duas atividades.

Já nos momentos síncronos, podem ser realizadas atividades propostas nas pautas, adaptadas ao formato de webinar ou videoconferência. Pontuamos, abaixo, algumas dicas para esse formato:

Como aparece no percurso	Sugestões de adaptação para o EaD
Momentos de perguntas e interação entre formadores e participantes	Ao organizar videoconferências e webinars, busque planejar momentos de interação entre os participantes, como a proposta de uma leitura, que pode ser indicada antes do evento virtual. Dê um tempo para que cada participante possa comentar seus aprendizados e compartilhar suas dúvidas. Lembre-se: sem interação, um webinar pode ser apenas uma videoaula, que não precisa ser um momento síncrono.
Troca de experiências	Os momentos síncronos são úteis para promover a participação dos cursistas, que pode acontecer por meio da partilha de experiências e/ou aplicações decorrentes da formação. Por exemplo, após uma determinada etapa do curso, os participantes realizaram o planejamento de uma aula e, durante uma videoconferência, cada participante terá alguns minutos para compartilhar como foi a aplicação.
Realização de atividades em grupo	Em momentos síncronos, grupos podem ser reunir utilizando ferramentas de videoconferência, realizar uma atividade e, depois, reunir-se com todo o grupo para compartilhar suas produções. Esse tipo de prática permitirá a adaptação de diversas atividades dos percursos formativos.

Para contribuir com as adaptações, sugerimos alguns recursos que podem ser úteis em determinados momentos da pauta:

Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA): será um recurso essencial se a maior parte da formação, ou mesmo toda ela, acontecer a distância. Existem diversos recursos, inclusive gratuitos, para tal finalidade. Muitas redes públicas já possuem AVAs prontos para serem usados. Algumas recomendações para grupos grandes são o Moodle, o Edmodo e o Google Classroom.
Murais virtuais: as atividades de aquecimento das pautas, como o levantamento de conhecimentos prévios ou mesmo uma rodada de brainstorm, podem ser realizadas a partir de um mural virtual. Os participantes podem também compartilhar produções de planejamentos, mapas conceituais, entre outras dinâmicas que aparecem em diversos momentos dos percursos formativos. Um bom recurso para essa atividade é uma ferramenta chamada Padlet.
Videoconferências: como diversas atividades do Percurso Formativo e do Percurso Formativo - Na Prática são realizadas de forma colaborativa, elas podem ser adaptadas a partir de sessões de trabalho em grupos menores. Os grupos podem se reunir utilizando ferramentas como Google Hangouts, Skype, Zoom, entre outras.
Interações para momentos síncronos: ao adaptar atividades do Percurso Formativo e do Percurso Formativo - Na Prática para videoconferências e webinar, pode-se interagir com os participantes por meio de enquetes, nuvens de palavra ou até mesmo imagens. Uma ferramenta muito útil para esse tipo de interação é o Mentimeter .
Documentos on-line: para elaborar e compartilhar planos de aula, sequências didática, entre outras produções dos participantes, pode ser útil trabalhar com documentos on-line, com o Google Drive. Este recurso permitirá que professores compartilhem planos com os formadores, ou mesmo com outros cursistas, em fóruns de discussão.

Sabemos que nem sempre esses recursos são simples de serem incorporados na formação on-line, porém, indicamos que você busque mais informações sobre eles pesquisando no YouTube tutoriais que ensinam o passo a passo sobre como utilizar essas ferramentas digitais.

Por fim, para dar suporte às redes que forem adaptar as pautas dos percursos formativos, sugerimos que sigam os passos abaixo:

Realize a leitura de todo o percurso que deseja adaptar para o EaD.
Defina como e quanto será a parte on-line da formação.
Escolha o AVA ou o recurso mais adequado para os professores, considerando os pontos recomendados acima.
Selecione as atividades que são mais adequadas ao EaD, de acordo com as recomendações citadas nos tópicos anteriores. Evite adaptar atividades muito complexas, principalmente as assíncronas, pois precisamos garantir que todos os professores consigam realizá-las.
Mescle atividades síncronas e assíncronas. Assim, você conseguirá promover a aprendizagem de mais participantes, mesmo a daqueles que não poderão estar nos momentos síncronos.
Pontue que as atividades farão com que os participantes analisem os currículos locais e a BNCC, promovendo não somente a reflexão, mas também o levantamento de boas práticas alinhadas com os temas abordados nas pautas.
Adapte o tempo. Exemplo: na pauta, uma tarefa de leitura e reflexão leva 30 minutos para ser concluída; já on-line, é bem provável que os participantes gastem mais tempo para finalizá-la. O excesso de atividades é um dos fatores que implica a falta de sucesso dos modelos de EaD.
Planeje atividades que se conectem às práticas de sala de aula, promovendo a reflexão, o planejamento e a aplicação dos aprendizados. O produto de uma aula, por exemplo, pode ser um plano de aula que será produzido pelo participante com base nos aprendizados das atividades anteriores. Muitas dessas atividades já existem nas pautas e poderão ser adaptadas para o EaD.
Sugira a aplicação e o compartilhamento de boas práticas no AVA utilizado, com base em planos de aula, sequências didáticas e outras atividades, alinhadas ao currículo, produzidas pelos participantes durante a formação EaD.

Sabemos que o ensino a distância é um grande desafio e esperamos que essas sugestões possam contribuir na adaptação dos percursos formativos para o modelo on-line. Sugerimos abaixo algumas leituras que poderão ajudar na elaboração de atividades para a formação de professores no EaD:

FILATRO, Andrea. Como preparar conteúdos para EAD. São Paulo: Saraiva Educação SA, 2018.

MORAN, José Manuel. Aperfeiçoando os modelos de EAD existentes na formação de professores. Educação, Porto Alegre, v. 32, n. 3, p. 286-290, 2009.

TORI, Romero. Educação sem distância: as tecnologias interativas na redução de distâncias em ensino e aprendizagem. São Paulo: Artesanato Educacional LTDA, 2018.